“Sorte ou azar? Crendices e superstições
populares”.
O Bloco da Imprensa escolheu como
tema-enredo para o carnaval 2015 “Sorte ou azar?”, pela coincidência de data no
dia do seu desfile na folia de 2015. A tradicional sexta-feira que marca a
apresentação da agremiação pelas ruas do Centro de Angra dos Reis terá como
ingrediente o dia 13, ou seja, sexta-feira 13. Com isso, vamos explorar esse
tema utilizando na sinopse do enredo algumas das muitas crendices e
superstições mais tradicionais que são relacionadas a sorte ou ao azar dentro
do imaginário da cultura popular. Gato Preto que atravessa o nosso caminho,
passar por baixo de escada, bater na madeira três vezes, cruzar os dedos, quebrar
o espelho dá 7 anos de azar, agosto é mês do desgosto, pisar com o pé direito,
tomar banho com sal grosso, são algumas das crendices populares mais comuns do
inconsciente coletivo.
Todas elas estão associadas a atitudes
relacionadas muitas das vezes ao uso de amuletos ou talismãs que assumem forças
místicas, e que representam a sorte que estar por vir e o afastamento do azar.
Afinal de contas, se bem não fazem, mal certamente não farão. Colocar um
raminho de Arruda atrás da orelha representa tirar o mau-olhado e influências
negativas. O trevo de quatro folhas, ferradura em cima da porta, espada de São
Jorge, pé de coelho, figa, são considerados símbolos de superstições que também
traduzem afastamento do mau-olhado, e cercados de fé, esperança e felicidade.
Quem já não ouviu a frase: “Eu não creio em bruxas, mas que elas existem, elas
existem”.
O sincretismo religioso da Bahia tem
influência direta no comportamento humano. Quem é que já foi na Bahia e não
trouxe uma fitinha do Senhor do Bonfim? Diz o ditado popular que “quem canta,
seus males espanta”. Sai azar, pé de pato, mangalô três vezes é uma frase
popular, que serve de talismã da sorte, assim como a arruda e uma figa de
guiné, que afastam o azar, que é o lado mau e que transmite medo. O lado bom é
cercado de esperança e de fé, e transmite alegria, em um mundo de fantasias,
que afasta a superstição.
Angra dos Reis
e suas lendas
Em Angra
dos Reis, a crendice popular tem força na sua própria história secular, cercada
de beleza, tradições, “causos”, mistérios, lendas, superstições e personagens
folclóricos, que traduzem em sua essência o cotidiano de um povo. Desde 1932,
iniciada pelo então prefeito, Fausto Soares Moreira da Silva, o par de alianças
encontrado no bolo de aniversário da cidade, simbolizava a sorte de um
casamento, e a moeda encontrada na fatia do bolo, representava o dinheiro e uma
possível riqueza. Uma das lendas mais conhecidas de Angra, diz que quem beber a
água da Bica da Carioca, não consegue mais deixar a cidade. Outra lenda, diz
que dois jovens se conheceram na bica, numa noite de lua cheia, e daí surgiu um
amor mais forte do que as proibições da época, sendo ela uma sinhazinha de
família nobre e muito rica, e ele, um pobre pescador e poeta, que fizeram juras
de amor. Até hoje, muitos acreditam que
o romantismo continua no ar, e um encontro no local, em noite de lua cheia,
pode representar um amor infinito.
As crendices populares da cidade também
contam que o túnel que ligava o Convento São Bernardino de Sena ao Convento do
Carmo, uma escrava perdeu seu filho fugindo de um cruel feitor e que mesmo após muitos anos, o choro da criança ainda é ouvido. O
poeta e escritor Alípio Mendes, também relata nas lendas de Angra, que o Pico
do Frade se assemelha a um religioso, que em suas caminhadas pela catequese,
ele foi morto e a montanha do local tem a forma do Frade deitado com o seu
capuz. Há também a lenda do pirata Jorge Grego, que vagou louco pela cobiça do
tesouro enterrado na Ilha Grande, ou mesmo na crendice dos “causos” populares, como
a do mostro da Monsuaba, que na década de 50, na febre do café, assustava os
moradores das praias da Monsuaba e Jacuecanga, mas, que de fato, era um leão
marinho capturado pelo então mergulhador Jorge Elias Miguel.
A lenda da imagem de Nossa Senhora da Conceição,
que se encontra na Igreja Matriz, carrega por mais de um século, uma
interessante história. Com oito palmos de altura, a imagem foi trazida há
mais de cem anos por uma embarcação que fazia uma viagem com escala em
Angra. Querendo seguir viagem, a Nau foi por três vezes impedida, por consequência
de tempestades que iniciavam assim que a embarcação saía do porto, empurrando-a
de volta. Conta à lenda, que no rastro da embarcação em meio à
tempestade, viam-se dezenas de peixes da espécie "Cavala", típicos da
região, que seguiam a embarcação como numa procissão. Curiosamente, a
Cavala possui um osso na cabeça que se assemelha muito ao formato de uma santa
com as mãos em prece. O comandante desistiu de retirar a santa da cidade
acreditando ser um aviso dos céus para o destino de Nossa Senhora, e vendeu a
imagem para a Igreja da matriz e, depois disso os navegantes conseguiram sair
da cidade. Em personagens mais recentes do
folclore da cidade, um deles é marcante, o “Manteigão” (Ezídio da Silva), que não
perdia um velório em Angra.
Atenção compositores!
Tópicos e dicas
importantes a serem destacados no enredo que devem ser relevantes na composição
do samba-enredo do Bloco da Imprensa para o Carnaval 2015:
- O samba-enredo deve ser curto, estilo samba de embalo, de
preferência com frases curtas e
refrões empolgantes, podendo também tornar poética a letra do samba;
- Procurar citar dentro da letra do samba o nome do Tema-Enredo:
“Sorte ou azar?
Crendices e superstições populares”.
- Ordenar a letra do samba-enredo como se estivesse contando uma
história, porém sem a necessidade de citar datas ou em ordem cronológica;
- O que pode ser importante estar na letra do samba: Citar as
crendices e superstições mais populares como os amuletos e frases mais
conhecidas. Falar da crendice na sexta-feira 13, do gato preto, de não
passar por baixo de uma escada, da ferradura e figa, do ramo de arruda e
do trevo de quatro folhas, do pé de coelho, Sai azar, pé de pato,
mangalô três vezes, da fitinha do Senhor do Bonfim, entre outros amuletos
ou talismãs que afastam o azar e atraem a sorte, sempre com muita fé e
esperança. O importante é afastar o mau-olhado. Mas é importante citar no
samba histórias e lendas de Angra dos Reis, se não todas, as mais conhecidas.
A cultura e o folclore de Angra sempre ganharam destaque nos enredos e
sambas do Bloco da Imprensa e se faz necessário manter essa tradição.
- Tentar seguir as expressões utilizadas na sinopse do enredo
sugeridas pela coordenação é importante, porém a sua adequação vai muito
da criatividade dos compositores em expressões ou frases, que inclusive,
podem proporcionar rimas, harmonia,
melodia e empolgação ao samba.